Especialista indiano destaca oportunidades para parceria com o Brasil no setor de leguminosas

Por: Pulse Pod,

25 de janeiro de 2025

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O jornalista e especialista em políticas agrícolas G. Chandrashekar compartilhou suas análises sobre as perspectivas para a safra de inverno na Índia, oportunidades de parceria com o Brasil e reformas necessárias para impulsionar a produção de leguminosas no país asiático.

Recuperação na Safra de Verão (Kharif)

Entre junho e setembro, as regiões produtoras de leguminosas na Índia receberam chuvas bem distribuídas, favorecendo o cultivo de grãos como ervilha-pombo, Feijão-preto (urad) e Feijão-mungo (moong). A área plantada aumentou de 11,9 milhões de hectares no ano passado para 12,9 milhões de hectares em 2023.

Inicialmente, Chandrashekar estimou uma produção de 8,5 milhões de toneladas métricas (MMT) para a safra kharif. Entretanto, chuvas fora de época, granizo e enchentes em outubro danificaram parte das plantações, levando a uma revisão para 8 MMT – ainda assim, 1 MMT acima do ano anterior, mas abaixo da meta governamental de 9,5 MMT.

Em novembro, o governo divulgou uma estimativa preliminar de apenas 6,9 MMT, o que causou surpresa. No entanto, Chandrashekar acredita que, após novas pesquisas de campo, esse número será ajustado para mais próximo de 8 MMT.

Expectativas para a safra de inverno

A safra de inverno indiana inclui grão-de-bico (chana), lentilhas e cerca de 1 milhão de hectares de ervilhas, além de pequenas áreas de Feijão-preto e Feijão-mungo. As chuvas prolongadas em outubro atrasaram o plantio, mas o ritmo está se recuperando.

Dados iniciais indicam atraso na semeadura em comparação ao ano passado, além de rumores sobre um possível aumento na área de trigo. Contudo, Chandrashekar alerta que é cedo para tirar conclusões, já que os números preliminares mostram que até mesmo o trigo enfrenta atrasos no plantio.

A produção de leguminosas na safra rabi ocupa cerca de 16 milhões de hectares, sendo 10 a 11 milhões de hectares destinados ao grão-de-bico. Com boas condições de umidade no solo e preços atraentes, Chandrashekar não espera perda significativa de área plantada.

Estimativas para o grão-de-bico

Nos últimos anos, o governo superestimou a produção de grão-de-bico, apontando volumes de 13 MMT a 13,5 MMT, quando o rendimento real foi mais próximo de 10,5 MMT a 11 MMT. Chandrashekar destacou que essas projeções infladas podem levar a políticas inadequadas.

Em 2022, após uma estimativa inicial de 13,5 MMT, o governo revisou para 12,2 MMT, mas Chandrashekar acredita que a produção real foi em torno de 11 MMT. Para 2023, a meta é de 13,6 MMT, mas ele prevê que o resultado final deve girar em torno de 11 MMT – suficiente para atender ao consumo interno, estimado em no máximo 9,5 MMT.

Importações e estoques

A Índia continua importando grandes volumes de ervilhas amarelas e grão-de-bico. Chandrashekar acredita que o governo decidirá em janeiro sobre a prorrogação do período de importação isenta de tarifas, avaliando as condições de produção e mercado até então.

Parcerias comerciais com o Brasil

Chandrashekar recomenda que o Brasil explore o mercado indiano, o maior consumidor mundial de leguminosas. Ele apontou que fontes de suprimento na África e em Mianmar têm enfrentado desafios, tornando a diversificação estratégica.

Segundo o especialista, o Brasil possui potencial para se tornar um grande fornecedor, mas o custo elevado do transporte marítimo devido à distância geográfica representa um desafio. Ele sugere que os produtores brasileiros invistam em eficiência produtiva para compensar esse fator.

Em breve, Chandrashekar viajará ao Brasil para promover parcerias em pesquisa, tecnologia agrícola e investimentos, fortalecendo os laços entre os dois países.

Feijão-carioca no mercado indiano

Há espaço para o Feijão-carioca no mercado indiano, mas Chandrashekar ressalta que o fator preço será determinante. Os consumidores indianos estão abertos a novas variedades, desde que tenham boa aparência, propriedades nutricionais e fácil preparo.

Ele recomenda testes com amostras no mercado indiano, incluindo avaliações às cegas e experimentos em cozinhas industriais, como forma de introduzir o produto. No entanto, alerta que conquistar o mercado indiano exige esforço contínuo e planejamento estratégico.

Queda na produção de leguminosas na Índia

A produção de leguminosas na Índia caiu nos últimos três anos – de 27,3 MMT em 2021/22 para 26 MMT em 2022/23 e 24,2 MMT em 2023/24, um declínio acumulado de 3,1 MMT.

Fatores como baixa produtividade, mudanças climáticas, escassez de água, uso limitado de insumos agrícolas e falta de avanços tecnológicos contribuíram para essa redução. Chandrashekar defende uma revisão na política agrícola, incluindo o desenvolvimento de culturas mais resilientes ao clima e melhorias nos sistemas de preços mínimos e comercialização.

Ele também destaca a necessidade de aumentar o consumo per capita de leguminosas na Índia, atualmente em torno de 14 kg anuais, enquanto o recomendado é de 20 kg.

Conclusão

Para Chandrashekar, o fortalecimento da cooperação entre Brasil e Índia no setor de leguminosas é uma oportunidade promissora. Apesar dos desafios logísticos, o Brasil pode se posicionar como um parceiro estratégico ao oferecer produtos competitivos e diversificados para o mercado indiano.

 

Com informações de  Pulse Pod

https://pulsepod.globalpulses.com/trade-talk/post/it-will-make-sense-for-brazil-to-continue-working-with-india-g-chandrashekar-on-indian-production-and-imports

 

 

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