A crise da produção de Feijão na Argentina é um dos maiores desafios enfrentados pelos produtores e comerciantes em 2024. Em uma recente entrevista o fundador da Alicampo, Horácio Fragola revelou o impacto devastador da safra de Feijão deste ano e discutiu as perspectivas mais otimistas para o grão-de-bico e a ervilha.
Segundo Fragola, a colheita de Feijão foi dramaticamente reduzida, alcançando apenas 25% a 30% do volume que seria obtido em um ano normal. “O impacto é significativo para os comerciantes, mas é ainda mais duro para os produtores, muitos dos quais dependem exclusivamente da produção de Feijão”, explicou. A situação destaca a vulnerabilidade dos agricultores que apostam em uma única cultura e a complexidade do mercado agrícola em tempos de crise.
A quebra na produção argentina de Feijão também terá efeitos no mercado global, especialmente para as variedades de Feijão-branco e cranberries, nas quais a Argentina tem um papel de destaque. Embora países como os EUA e o Canadá possam fornecer alternativas em algumas variedades de Feijão, como Dark Red Kidney (DRK) e Light Red Kidney (LRK), o mercado mundial enfrentará um aumento de preços.
Outro ponto levantado por Fragola é o impacto nos principais destinos da Argentina, como Europa, Turquia e Argélia, que serão os mais prejudicados pela ausência de Feijão argentino. "Exportadores de países como Egito, Uzbequistão, Cazaquistão, Bulgária e Polônia podem tirar vantagem da situação", destacou. Além disso, ele aponta que os grãos Great Northern dos EUA e os grãos brancos da Turquia podem competir em mercados onde a Argentina tradicionalmente lidera.
O Egito, em particular, tem se mostrado um forte concorrente no mercado europeu de aluvias (Feijões-brancos). Desde a falha de produção em 2013, os egípcios têm ganhado participação em mercados que antes eram da Argentina, como Argélia, Turquia e países do Leste Europeu. Apesar do aumento da competitividade egípcia, Fragola acredita que a qualidade superior dos grãos argentinos ainda é preferida pelos consumidores. "Nos últimos anos, o Egito penetrou em mercados tradicionais argentinos oferecendo preços mais baixos, mas a qualidade argentina continua sendo um diferencial."
Outros empecilhos
Além dos problemas de produção, a logística também contribui para a pressão sobre o comércio agrícola. O aumento dos preços dos fretes marítimos e a dificuldade de obter espaço nos navios têm tornado a situação ainda mais desafiadora para a venda da produção argentina reduzida.
A economia argentina, que Fragola descreve como enfraquecida há mais de 30 anos, também tem dificultado as exportações. Um dos principais obstáculos é o atraso cambial que gerou uma diferença entre o dólar oficial, utilizado para as exportações, e o dólar paralelo. Segundo Fragola, essa disparidade faz com que os exportadores recebam de 35% a 40% menos em dólares, tornando as exportações argentinas menos competitivas no mercado global.
Ervilha e grão-de-bico
No entanto, nem todas as perspectivas são sombrias. Fragola afirma que as safras de grão-de-bico e ervilha estão em melhores condições neste ano. Após anos afetados pela seca, as expectativas para estas culturas são positivas. "Estamos novamente passando por uma leve seca, mas por enquanto não deve nos afetar significativamente, considerando que faltam dois meses para o início da colheita", comentou.
O cenário agrícola argentino, embora complexo, oferece algumas esperanças. Enquanto a produção de Feijão sofre um golpe severo, os grãos de grão-de-bico e ervilha surgem como alternativas promissoras, podendo, pelo menos em parte, compensar as perdas e ajudar a sustentar o setor.
A crise na safra de Feijão argentino é um alerta para a fragilidade do mercado agrícola global. Ao mesmo tempo, a resiliência e adaptação dos produtores às circunstâncias adversas demonstram que, mesmo em tempos de dificuldades, há espaço para otimismo e recuperação, especialmente nas culturas de grão-de-bico e ervilha.
Com informações de Pulse POD