Em tempos de mercado calmo demais, vale olhar para algo que tem tudo a ver com o nosso dia a dia. Comparei a queda do consumo com a valorização ao consumidor usando números do Vigitel. O retrato de 2014 a 2023 é claro: à medida que o preço médio do Feijão em reais avançou 208% — de R$ 95,30 para R$ 293,46, sem deflacionar, apenas cálculo direto —, a parcela que diz comer Feijão cinco vezes por semana encolheu 12,6%, de 63,97% para 55,91%.
A relação estatística entre as duas curvas é negativa e relevante, próxima de −0,65. Em bom português: quando o bolso aperta, o hábito cede. E, quando o preço alivia depois, a rotina não volta no mesmo ritmo. O par 2016–2017 ilustra a assimetria: em 2016, o preço disparou para R$ 271,48 e o consumo caiu para 59,28. Em 2017, o preço recuou para R$ 141,24, mas o consumo não retornou ao patamar anterior, ficando em 57,00.
Em dólares, o movimento é bem menor — alta de 31,8% no período —, sinal de que a pressão sobre o consumidor é majoritariamente doméstica: inflação de alimentos, câmbio e custos internos, e não um encarecimento global do Feijão.
Para o Clube Premier do IBRAFE — na verdade, para todo o setor —, a consequência é objetiva: precisamos agir antes que cada nova alta corroa de vez a rotina do prato. É necessário monitorar semanalmente, por praça, o preço percebido por quilo e a frequência de consumo; acionar estímulos quando a curva começar a ceder; e aceitar que a reconquista do hábito exige mais do que baixar o preço. Comunicação e conveniência na hora da compra fazem diferença.
Precisamos ainda analisar, com dados, como aumentar o consumo de Feijões prontos sem conservantes, entendendo barreiras de preço por porção, distribuição e mensagem. Se quisermos defender o Feijão no dia a dia, o momento de operar no detalhe é agora.
*Vigitel: Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, pesquisa anual do Ministério da Saúde desde 2006 sobre hábitos de vida da população adulta.
