O mercado ontem ficou sem reporte de vendas. A chuva em São Paulo, no final de semana, não permitiu novas colheitas. Somente a partir de amanhã espera-se o retorno das condições adequadas para a colheita. Ainda no sábado, Feijão-carioca com 20% de umidade foi vendido por R$ 255,00. Esse Feijão, antes de chegar ao pacote, passará por secador e certamente não será nota 9.
Esses primeiros lotes tiveram a maior parte vendida para o Paraná, muito provavelmente pela total ausência de Feijão-carioca naquele estado. Em Minas Gerais, o volume estocado vem reduzindo rapidamente. Será muito difícil impor, a partir de agora, novas reduções de preços no estado.
Russos podem atingir o Feijão do Brasil
Pesquisei ontem sobre uma notícia que me chamou a atenção: a chegada de uma rede russa de supermercados conhecida por vender muito — mas muito — barato. Pode ser bom quando olhamos sob o viés do consumidor; porém, para o setor de produção e distribuição, não será uma evolução. Quanto melhor e mais cedo entendermos o que vem por aí, mais preparados estaremos.
A Vantajoso, bandeira do grupo russo Svetofor, traz o modelo ultra hard discount para SP, MG e RJ. Lojas de cerca de 1.000 m², sortimento curto, operação no pallet e promessa de preços até 30% abaixo do atacarejo. A primeira unidade será em Americana (SP). O plano divulgado prevê 9 lojas em 2025 e algo próximo de 50 em até três anos.
O que muda para Feijões e itens básicos
Gôndola sob pressão nas regiões atendidas. Tendência de mais ofertas em Feijão, arroz, óleo, açúcar e farináceos, com efeito desinflacionário local na cesta.
Trade down acelerado. Prioridade a SKUs de entrada, embalagens simples e compras diretas do fabricante. Empacotadores podem ser chamados para linhas bare-bones em 1 kg e 5 kg.
Rotatividade por preço. Com sortimento curto, a disputa fica entre uma ou duas marcas por loja, buscando sempre a mais barata do dia.
Repasse mais lento para a origem. O varejo de básicos, já com margens apertadas, tende a segurar altas e a exigir maiores descontos quando o preço cai.
Janela de volume. Preço muito agressivo pode segurar a queda do consumo doméstico de Feijão nas áreas atendidas, com mais panelas de pressão em casa.
Efeitos concorrenciais esperados
Reação do atacarejo e redes regionais com combos, marca própria e guerra de preços, começando pelo interior de SP e depois RJ e MG.
Fornecimento no osso. Exigência de custo baixo, pouca verba de trade e prazos rígidos favorecem quem tem logística eficiente perto das lojas e CDs.
Risco e recompensa para empacotadores. Contratos grandes, com qualidade mínima e embalagem mais barata. Quem não tiver estrutura de custo competitiva perde espaço.
Os poréns do projeto
Tributação, normas sanitárias, contratos, última milha e adaptação do mix ao gosto local podem atrasar a curva de aprendizado.
A marca opera como Svetofor/Mere em outros países e estreia como Vantajoso no Brasil; portanto, a fase inicial tende a ajustes.
Como o setor pode se posicionar já
Produtores: mapear empacotadores que atendem outras redes com maior elasticidade a preço e contratos de volume, sem abrir mão de qualidade e rastreabilidade.
Empacotadores: preparar linhas econômicas auditadas, com custo de embalagem reduzido, mantendo especificação mínima e padronização visual clara.
Portfólio: garantir opção de Feijão-carioca e Feijão-preto com proposta de preço de entrada e, em paralelo, manter linha de valor para canais menos sensíveis.
Inteligência: monitorar semanalmente preços médios de gôndola, participação por SKU e cadência de promoções nas cidades onde a Vantajoso abrir.
Resumo do impacto
O formato empurra o preço para baixo e comprime margens no varejo. Para quem estiver pronto para atuar com escala, padronização e execução enxuta, há espaço para defender volume e presença. Já para quem não ajustar custo e serviço, o risco é ficar fora da prateleira onde o consumidor de Feijão vai decidir pelo menor preço.
