Como explicar a redução na oferta e a alta nos preços das últimas safras
Nos últimos 10 anos, observa-se preocupante queda do consumo de Feijão. Segundo Marcelo Eduardo Lüders, presidente do IBRAFE e um dos maiores especialistas do setor, é necessário fazer uma leitura correta do que está acontecendo. É importante identificar a razão do menor consumo. Em nenhuma pesquisa com os consumidores o motivo apontado é de que que o consumidor não gosta mais de Feijão. Longe disso! “O brasileiro ama o Feijão e tem orgulho deste alimento símbolo da gastronomia do Brasil”, destaca Lüders. O que tem ocorrido é que estamos oferecendo menos Feijão a cada ano para a população. O preço subindo impõe menor consumo e equilibra a demanda dentro da oferta atual. Diversos fatores podem ser atribuídos a essa redução na produção, o que afeta diretamente a oferta e os preços de um dos alimentos mais importantes para a população brasileira.
De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater-PR, Germano Kusdra, na verdade, nesse período, a produtividade do Brasil vem aumentando, mesmo que de forma singela. Isso compensa, em parte, a redução da área plantada.
“No período que estamos analisando, a produtividade no Brasil saiu de 913 kg/ha em 2013, para 1.125 kg/ha em 2023, cerca de 20% de crescimento, enquanto a área plantada diminuiu aproximadamente 12%. Reflexos são vistos na continuidade da instabilidade da área plantada e da produção, devido à insegurança dos produtores em relação aos preços, tanto de venda, quanto de custo de produção”, explica Kusdra.
Não podemos esquecer que as áreas perdidas de plantio de Feijão se dão pelo incremento de áreas de soja e milho. Segundo a Conab, a área de soja aumentou de 27,7 milhões de hectares para 44,08 milhões de hectares (58,9%) e do milho 15,8 para 22,26 milhões de hectares (40,6%) nesse período. Muito destas áreas foram retiradas do Feijão, que ainda sofreu com problemas climáticos impactantes na última safra.
Ele acrescenta: “Para a safra 2022/23, considerando as variedades preto, caupi e carioca, foram 2.71 milhões hectares. Na temporada de 2012/13, eram 3,07 milhões de hectares”.
Como reverter o quadro
Tendo como referência os trabalhos feitos no Paraná – um dos maiores estados produtores – percebemos que o Feijão pode dar margem de rendimento melhor que as culturas da soja e do milho. Porém é preciso investir melhor em tecnologias e conhecimentos para aumentar a produtividade e reduzir os impactos de eventos climáticos como estiagens, veranicos e excesso de chuvas.
“Ainda estamos pecando com uso baixo de sementes, seguir zoneamento de plantio recomendado, fertilização inadequada, distribuição espacial da cultura, população de plantas conforme a cultivar, época de plantio e sistema de plantio. Também falhamos no uso de tratamento e inoculação de sementes, manejo correto do solo e adesão ao sistema de plantio direto, manejo coreto de pragas, doenças e plantas invasoras. Enfim, nossa média de produtividade é 1000 kg/ha e o potencial produtivo das cultivares atuais é de 5.000 kg/ha”, enfatiza o engenheiro da Emater-PR.
Ele acrescenta que cada evento tecnológico ou prática importante que deixamos de fazer na cultura tira um pouco do potencial a ser alcançado, que poderia ser algo, pelo menos, em torno de 3.500 kg/ha, considerando perdas não controláveis.
“Temos que investir melhor no cultivo e no manejo correto do solo e da fertilidade. Vimos o impacto de perdas nessa instância com os problemas das chuvas intensas no sul do Brasil nos meses de outubro e novembro, que carrearam solo, fertilizantes e outros produtos poluentes para os fundos de vales e mananciais d’água, depauperando a camada agricultável dos terrenos cultivados, o que levará décadas para recuperamos, devido a descuidos em conservação que temos tido. Isto impactará o Feijão e todas as explorações que dependem de solo, inclusive a pecuária, pois a alimentação animal também tem base no solo”.
Finalizando, Kusdra lembra que os produtores brasileiros estão trabalhando no limite para abastecer o mercado interno, com números próximos a 3 milhões de toneladas. “No entanto, vale destacar a importância do uso de cultivares e tecnologia disponíveis para o incremento de produtividade e redução de perdas, bem como a importância de abrir horizontes e oportunidades com Feijões diferenciados e outras Pulses que possam ser exportados, para a promoção da produção e da renda”.
Para ajudar a aumentar a produtividade, o IBRAFE realiza os eventos Pulse Day, encontros de alto nível que reúne anualmente milhares de produtores.
O IBRAFE atende em polos de produção desenvolvidos e em desenvolvimento a demanda por atualização de informações sobre novas cultivares, tecnologias, manejos e sobre comercialização de Feijões, propiciamos a oportunidade para que os produtores possam ouvir especialistas e conhecer as soluções para seus desafios, de nossos parceiros comerciais.