Canadá assume liderança após colheita ruim de lentilhas na Austrália

O Canadá está de volta ao controle do mercado de lentilhas vermelhas, de acordo com especialistas da indústria de leguminosas. Após dois anos ficando em segundo plano, o país conseguiu retomar a liderança da Austrália, que vinha dominando o setor.

"Nos últimos anos, a Austrália ditava os preços e o Canadá os seguia", disse Mostyn Gregg, vice-presidente de grãos e leguminosas da Olam, durante um recente webinar da Global Pulse Confederation (GPC).

Entretanto, a seca voltou a atingir a Austrália, com uma safra decepcionante estimada em cerca de 1 milhão de toneladas, bem abaixo das 1,57 milhões de toneladas do ano passado e das 1,69 milhões de toneladas do ano anterior. No início da temporada de cultivo, havia bastante otimismo, com previsões de até 2 milhões de toneladas. No entanto, o relatório de setembro do Australian Bureau of Agricultural and Resource Economics and Sciences (ABARES) que previa 1,7 milhão de toneladas agora parece extremamente otimista.

Gregg comparou a situação atual da Austrália com a colheita desastrosa do Canadá em 2021, quando a produção caiu para 1,59 milhão de toneladas, em contraste com os 2,87 milhões de toneladas do ano anterior. "Estamos vendo algo semelhante aqui", afirmou ele.

Embora isso possa beneficiar os preços das lentilhas, não houve um aumento significativo devido aos altos estoques da Índia, à demanda fraca da Turquia e às boas colheitas no Canadá e na Rússia.

Mitchell Elks, trader da AGT Foods, disse que a safra australiana estava indo bem até dois meses atrás, apesar da falta de umidade. Porém, uma geada intensa atingiu a região, com temperaturas caindo para -5°C por um período prolongado no sul da Austrália e em partes de Victoria, comprometendo o rendimento.

Ele também expressou preocupação com os produtores australianos que podem segurar suas colheitas em busca de preços melhores, enquanto os produtores canadenses já estão no mercado com suas 1,6 milhões de toneladas de lentilhas vermelhas. "Certamente, a Austrália agora ficará em segundo plano", disse Elks durante o webinar.

Segundo ele, os compradores que quiserem adquirir lentilhas vermelhas australianas terão que pagar um prêmio. A Austrália ainda deverá atender mercados como Índia, Bangladesh, Paquistão e Emirados Árabes Unidos, mas poderá perder mercados como o Egito e a Turquia para o Canadá.

Com os estoques acumulados, estima-se que entre 1 e 1,2 milhão de toneladas de lentilhas vermelhas australianas estarão disponíveis para exportação, abaixo das 1,7 milhões de toneladas do ciclo anterior. Entretanto, a quantidade que será enviada depende da disposição dos agricultores. "Vai ser difícil convencer os produtores a venderem suas lentilhas", disse Gregg.

Grão-de-bico

Por outro lado, a situação é bem diferente para a safra de grão-de-bico desi, cultivada em regiões da Austrália que receberam chuvas abundantes. Elks prevê que a colheita poderá chegar a 2 milhões de toneladas, bem acima das 491 mil toneladas do ano passado e das 541 mil toneladas do ano anterior. Ele acredita que a previsão do ABARES de 1,3 milhão de toneladas está incorreta.

Após percorrer as principais áreas de cultivo de grão-de-bico da Austrália, Elks relatou que viu algumas das melhores plantações de sua carreira, com campos onde as plantas chegavam à altura dos joelhos, carregadas com 70 a 90 vagens, cada uma contendo pelo menos duas sementes. Ele acredita que, com mais 10 a 20 milímetros de chuva, a produção facilmente alcançará 2 milhões de toneladas.

Essa safra de grão-de-bico desi da Austrália pode ajudar a preencher a lacuna deixada pela Índia, que vinha sendo suprida em parte pelo Canadá com ervilhas amarelas. Peter Wilson, chefe de leguminosas australianas da Louis Dreyfus Co., comparou a situação atual com a safra recorde de 2,4 milhões de toneladas de 2016/17. No entanto, ele destacou que há grandes desafios logísticos este ano.

Os altos custos de frete para contêineres e a falta de capacidade de transporte a granel da Austrália dificultam a movimentação de uma safra tão grande. Wilson afirmou que será um grande desafio levar o grão-de-bico desi ao mercado antes do Ramadã. Elks concordou, dizendo que a logística de transporte será um obstáculo significativo este ano. "Os contêineres estão excepcionalmente difíceis de conseguir", disse ele.

Com uma forte demanda no início do período de vendas, Elks estimou que 400 mil toneladas de grão-de-bico já foram vendidas para o período de outubro a dezembro, mas acredita que os exportadores enfrentarão dificuldades para cumprir esses contratos.

Quanto à isenção tarifária da Índia sobre as importações de grão-de-bico desi, Gregg afirmou que sua prorrogação dependerá da colheita indiana, que atualmente apresenta boas condições devido à chuva acima da média. Elks concordou, afirmando que a Índia provavelmente voltará a impor as tarifas se a Austrália despejar entre 400 mil e 500 mil toneladas de grão-de-bico no mercado indiano entre janeiro e março.

Com informações de The Western Producer

https://www.producer.com/news/canada-takes-reins-after-poor-aussie-lentil-crop/