Paquistão – O cultivo de Gergelim no Paquistão, tradicionalmente considerado uma alternativa de baixo custo para terras marginais e dependente da chuva, passou por uma expansão vertiginosa nos últimos anos. Entre 2018 e 2023, a área plantada saltou de 83,3 mil hectares para cerca de 399,8 mil hectares, segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).
A produção acompanhou esse ritmo, subindo de 35,7 mil toneladas para mais de 301 mil toneladas no mesmo período. O boom nas exportações foi ainda mais expressivo: os embarques de sementes de Gergelim, em grande parte in natura, aumentaram de US$ 39 milhões (cerca de R$ 210 milhões) em 2020 para impressionantes US$ 417 milhões (aproximadamente R$ 2,25 bilhões) em 2023, segundo o Mapa Comercial.
Cultura de baixo custo, alto retorno
O Gergelim ganhou popularidade entre pequenos produtores devido ao baixo custo de produção e ao ciclo curto de colheita, que varia entre 100 e 120 dias. O cultivo exige apenas 1 a 2 kg de sementes por acre — equivalente a cerca de 2,5 a 5 kg por hectare — além de duas irrigações e quantidade mínima de fertilizantes, em torno de 25% do volume exigido para algodão, arroz ou milho.
Esse cenário atrativo se intensificou com o aumento da demanda externa e a desvalorização da moeda local, que caiu de 105 para cerca de 280 rúpias por dólar entre 2017 e 2023. Em setembro de 2023, auge da colheita, o Gergelim chegou a ser negociado a 17 mil rúpias por maund (equivalente a R$ 950 por 40 kg, ou R$ 23,75/kg) nos mercados internos.
Com bons preços e baixa necessidade de insumos, a área cultivada cresceu ainda mais em 2024. Só no Punjab — responsável por cerca de 90% da produção nacional — o Gergelim foi plantado em cerca de 710 mil hectares, conforme dados do Departamento de Agricultura da província. Na fértil região de Sahiwal, a área chegou a 107,5 mil hectares.
Crescimento sem planejamento
Esse crescimento acelerado também revelou uma lacuna na gestão agrícola do país. Sem políticas de zoneamento agrícola ou diretrizes estratégicas claras, muitos produtores seguiram o mercado — num típico efeito manada.
Mas a tendência de alta se reverteu bruscamente. De acordo com a primeira estimativa provisória da safra de 2025, divulgada pelo Serviço de Relatórios de Safras do Punjab, a área plantada caiu para 444,5 mil hectares — uma redução de cerca de 37%.
Queda nos preços e perdas por chuvas
A retração foi impulsionada por dois fatores principais. Primeiro, a queda nos preços: o valor do Gergelim caiu de 17 mil rúpias (R$ 950) por maund em 2023 para cerca de 11 mil rúpias (R$ 615) em 2024 — R$ 15,38/kg.
Além disso, as chuvas em agosto de 2024 coincidiram com o período de colheita, provocando grandes perdas na lavoura e no pós-colheita. A redução nos lucros levou muitos produtores a migrar para outras culturas na safra de 2025.
O problema se agravou ainda mais neste ano. Chuvas torrenciais em curtos intervalos provocaram alagamentos, inclusive em áreas normalmente bem drenadas. O Gergelim, que é bastante sensível ao excesso de umidade, sofreu danos severos, com plantas murchando e morrendo em diversas áreas produtoras, especialmente na divisão de Sahiwal.
Falhas estruturais e soluções viáveis
As chuvas expuseram graves falhas na drenagem de água no centro e sul do Punjab. Construções irregulares ao longo de rios e canais naturais interromperam o escoamento, deixando a água parada por dias e agravando os prejuízos.
Segundo especialistas, a solução pode estar na adoção de poços de recarga de aquíferos, formados por furos acompanhados de câmaras de recarga com materiais como tijolos e cascalho. A prática ajuda tanto na drenagem quanto na reposição do lençol freático — uma alternativa viável e de baixo custo, que pode ser disseminada com campanhas educativas e subsídios governamentais.
Caminhos para o futuro
Para reverter o cenário e retomar o potencial do Gergelim, especialistas recomendam que o governo invista em pesquisa e desenvolvimento de sementes de alto rendimento, resistentes ao estresse climático e adaptadas à colheita mecanizada. A redução da dependência do corte manual e da secagem ao sol pode diminuir perdas em períodos de clima instável.
Também é importante fortalecer os serviços de extensão rural, promovendo práticas como o plantio em canteiros elevados e o uso de fertilizantes à base de potássio, que aumentam a resistência das plantas.
Em um momento de transição no setor agrícola paquistanês, com pressões climáticas e flutuações nos preços globais, a formulação de uma estratégia agrícola de longo prazo se torna urgente. A produtividade, a segurança alimentar e o bem-estar dos agricultores dependem de decisões políticas assertivas — e o tempo para agir é agora.
Com informações de Dawn
https://www.dawn.com/news/1928406