Redução tem acentuado alta de preços no segundo trimestre, mostra Ibrafe
Por Fernanda Pressinott — De São Paulo
Ano após ano, a área destinada ao plantio de Feijão de primeira safra tem caído no país. Como consequência, os
preços passaram a subir cada vez mais entre abril e junho, o que provoca uma ruptura no consumo, principalmente
por parte dos mais pobres.
Levantamento do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe) mostra que, em dólar, o preço médio do Feijão carioca entre abril e junho de 2022 ficou em US$ 68,6 a saca, na comparação com US$ 51,03 um ano antes, US$ 53,8 em 2020 e US$ 42,01 em 2019. Em janeiro deste ano, a média ficou em US$ 49,01; no mês passado, atingiu US$ 51,56.
Em sua primeira estimativa sobre a temporada 2022/23, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projetou
que a área destinada à leguminosa no verão será a menor da história. A estatal prevê 869,3 mil hectares, área 3,9%
menor que a do mesmo período do ciclo 2021/22 e 22,7% a menos que há dez anos.
“O Feijão tem perdido espaço para culturas mais rentáveis, como soja e milho, e o abastecimento fica comprometido”,
diz Marcelo Lüders, presidente do Ibrafe. Segundo ele, mesmo que ao longo da temporada a relação entre oferta e
demanda se estabilize, o cultivo como está tem prejudicado grande parte da população. “É como a história de faltar
oxigênio: foi só cinco minutos, dizem, na média não faltou. Mas e para quem precisou naqueles cinco minutos? É tudo, né?”
Falso equilíbrio
Nas três safras, com todas as variedades de Feijão, a Conab projeta uma colheita de 2,9 milhões de toneladas em
2022/23, volume 0,9% menor que o do ciclo passado. O consumo é previsto em 2,85 milhões de toneladas.
“Ainda que os números pareçam equilibrados, o que o mercado tem sentido é um menor consumo por falta de
produto e preços elevados, e não um desinteresse do consumidor”, afirma Lüders. O consumo brasileiro de Feijão está em 13 quilos per capita ao ano, considerado baixo para uma população que tem reduzido poder de compra para
consumir outras proteínas.
Mais soja
E a sinalização de mercado não é boa. O Ministério da Agricultura projeta que a área plantada de soja continuará a
crescer até pelo menos 2030/31, para 48,8 milhões de hectares. Na safra atual, a estimativa da Conab é de 42,9 milhões de hectares para a oleaginosa.
Como se não bastasse a queda da produção de Feijão, o Brasil tem uma baixa capacidade de armazenamento. A
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) recomenda que um país tenha pelo menos
três meses de estoque dos seus produtos básicos, especialmente aqueles sensíveis à quebras de safra e com dificuldade de importação, como é o caso do Feijão. Mas os estoques brasileiros foram reduzidos consideravelmente em 2016 e estão completamente zerados desde 2017.
“Produção deficitária e falta de estoques públicos fazem com que o país dependa cada vez mais das importações, com
o agravante de que o brasileiro gosta de Feijão carioca, variedade que é cultivada apenas aqui”, afirma Lüders.
Soluções
Para ele, a solução passa por incentivos oficiais do governo ao cultivo de Feijão - e não só de carioca, mas também de
outras espécies, que sejam exportáveis. “No passado, o milho era só para consumo próprio. A produção só cresceu
porque percebemos que era possível vender o excedente, dando equilíbro e garantia ao produtor. É possível fazer o
mesmo com os Feijões mungi, preto, rajado ou vermelho”, observa.
O especialista defende também que o médio produtor tenha juros subsidiados menores no Plano Safra apenas para o
cultivo de Feijão, com taxas semelhantes às dos agricultores familiares.
O Ibrafe fará um rali para promover a leguminosa em Mato Grosso. O Rally dos Feijões percorrerá 2,1 mil quilômetros pelos principais polos do Estado entre 28 de novembro e 9 de dezembro. O foco é sensibilizar, além de produtores, toda a rede que contribui com a atividade agrícola, como cooperativas, cerealistas, agrônomos e técnicos agrícolas.